Tragédias como a da Igreja Renascer em
Cristo, em São Paulo, podem ser evitadas com uma inspeção predial rigorosa e
uma manutenção freqüente nas construções
Curitiba, 11/03/2009
O desabamento da cobertura da
Igreja Renascer em Cristo, na cidade de São Paulo, em janeiro, que deixou nove
mortos e mais de 100 pessoas feridas, poderia ter sido evitado se o imóvel
tivesse passado por vistoria técnica periódica. A opinião é de especialistas da
área de avaliação de imóveis e é válida para a segurança de todo tipo de
construção.
Em 2008, a Defesa Civil de
Curitiba recebeu 990 denúncias de problemas estruturais em edificações. Destas,
43 resultaram em visitas dos técnicos do órgão e da Comissão de Segurança de Edificações
e Imóveis da Secretaria Municipal de Urbanismo (Cosedi) para avaliar o
problema. Ainda no ano passado o órgão recebeu 36 chamados de desmoronamentos,
todos sem vítimas. “Esses números não aumentaram ao longo dos anos, mas mantêm
uma incidência que revela a falta de manutenção dos imóveis na cidade”, avalia
o coordenador técnico da Defesa Civil municipal, Nelson de Lima Ribeiro.
O engenheiro civil da Cosedi
Jorge Castro diz que a maioria das pessoas só toma providências no limite do
problema. “Ano passado na verificação da situação dos pararraios de 250 prédios
tivemos de pedir laudo de todos e, no retorno dos documentos, constatamos que
mais de 90% apresentavam problemas. A cultura de prevenção ainda não existe. O
proprietário só age sob notificação”. Os problemas mais comuns em Curitiba, de
acordo com a Cosedi, são as más condições de telhados e instalações elétricas.
Segundo a presidente do Instituto
Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná (Ibape-PR), Vera
Lucia de Campos Corrêa Shebalj, esses problemas começam com sinais simples,
como uma rachadura. “Só que a avaliação desses sinais cabe apenas a um perito,
engenheiro civil ou arquiteto cadastrado no Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), não ao síndico ou ao pedreiro do
condomínio.”
É a partir da avaliação geral
desse perito que outros profissionais serão chamados para a conclusão de um
laudo técnico e um plano de manutenção do imóvel.
Custos
A inspeção começa com um custo de
R$ 200 por hora de visita técnica. “O laudo completo e o plano variam de R$
1.500 a R$ 10 mil, dependendo do imóvel”, explica Michael Wahrhaftig Filho, o
diretor técnico da Eapar, empresa especializada em inspeções.
O plano de manutenção para um
condomínio inclui a classificação dos problemas – que podem surgir de um erro
de construção ou da ação do tempo – e a definição de quais são mais urgentes.
Indicações básicas de manutenção (como a tinta certa para a fachada), as possibilidades
de modernização da edificação e o prazo para as próximas inspeções também
constam nesse serviço. Todas as vistorias precisam sempre ter Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) de um profissional habilitado, senão não terão
validade legal. Esse detalhe é importante porque o síndico pode ser
responsabilizado civil e criminalmente por falhas de administração.
No Plaza Barigui, edifício de 15
andares e 16 anos de construção, no Bigorrilho, em Curitiba, a primeira
inspeção predial foi no ano passado. Este ano, até o mês de julho, o condomínio
passará por um série de reformas previstas por uma empresa de engenharia “Todos
os reparos devem sair R$ 100 mil divididos pelos 58 apartamentos”, explica José
Antônio Gomes Neto da administradora de condomínios Condoserv.
No caso da Igreja Renascer, a
última inspeção documentada foi em 2000, pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT). Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo
nenhum laudo técnico sobre a tragédia foi concluído ainda, mas a avaliação
preliminar da Defesa Civil indicou o sobrepeso e a falta de conservação da
estrutura do teto como possíveis causas.
Escolha da empresa
Além
de um responsável técnico cadastrado no Crea-PR (fone 0800-410067), a
orientação da Cosedi é que a empresa escolhida pelo condomínio tenha boas
referências, com obras concluídas e passíveis de visita. Pesquisar no Procon-PR
(fone 0800-411512) se a empresa tem registro de reclamações também é indicado
para checar a qualidade de seus serviços.